Fonte: ESPN
Moara Sacilotti tinha apenas sete anos de idade quando pilotou uma moto pela primeira vez, sob olhar atencioso de seus pais. Mais que uma aventura infantil, foi um rito de passagem entre duas gerações de uma família apaixonada por velocidade sobre duas rodas. O pai, Gilberto, praticou motocross, tendo sempre a esposa, Regina, como companhia. Não seria surpresa a filha seguir o mesmo caminho ser a única mulher a competir na categoria motos nas edições mais recentes do Rally dos Sertões.
“Comecei mesmo por influência deles, e minha mãe hoje é a chefe da equipe”, conta Moara, que atualmente corre pela Kawasaki. E a relação dos Sacilloti com o motociclismo não para por aí: o irmão de Moara, Ramon, também é competidor de ralis e um dos principais nomes da modalidade no Brasil.
Presentes desde cedo na vida familiar de Moara, as motos também foram o veículo para encontrar o amor. Ainda que seu marido Rodolfo Bazetto não seja exatamente um piloto, ela o conheceu através do rali quando ele, publicitário, fazia uma campanha de motos. “Ele vibra muito quando vai me assistir, e se não dá para me acompanhar ele torce de casa mesmo”, conta.
Sonho de infância realizado e revivido com muita preparação
Com uma família envolvida em ralis desde sempre, Moara não via a hora de completar 18 anos para participar do Rally dos Sertões. “Era uma grande aventura atravessar o Brasil de moto em 1998, era tudo muito novo e amador”, relembra.
Ainda que as condições de segurança e comunicação tenham melhorado bastante desde então, as exigências nos quesitos força física e preparação permanecem, etapa após etapa. “É muito quente, demorado e cansativo, sempre com muita poeira. Corremos contra o relógio”.
Os 500 km percorridos em média a cada etapa também exigem muita concentração. “Sempre é um caminho desconhecido, precisamos nos orientar por uma planilha, na moto se faz tudo sozinha”. Para aguentar tudo isso, ela treina crossfit, corrida e yoga para mobilidade da coluna. Em época de competições, são oito treinos físicos em cinco dias.
Rali também é coisa de mulher
Se ainda hoje são raras as mulheres que competem em rali de motos, não seria diferente no final da década de 1990. “Foi muito difícil me enturmar, porque nenhuma mulher tinha competido e ninguém acreditava que poderia completar a prova”, conta Moara. “Mas durou bem pouco, pois logo viram que eu tinha capacidade e passaram a me respeitar”, completa.
“Nunca me descriminaram pelo fato de ser mulher nem fizeram piada sexista, mas sei que nenhum deles quer perder para mim”, conta. “Também sei que quando ganho de um deles, este vira motivo de tiração de sarro”, prossegue. “Tem até piloto que parou de correr porque perdeu para mim”, completa.
Mesmo depois de correr o Rally dos Sertões 17 vezes – recorde entre mulheres – e ser a única motociclista nas últimas edições do circuito, Moara continua sendo uma exceção na modalidade. Enquanto nos cedeu esta entrevista, ela estava em meio à disputa do Rally de Ilha Comprida, onde também era a única mulher.
Tanto tempo vivido no meio deixa muitas lições e Moara faz questão de citar uma delas para encerrar a entrevista: “Quanto mais rápido você passa por um obstáculo, menor ele fica”.
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