Moara Sacilotti, piloto de rally, e a paixão pelo Off Road

Piloto da Kawasaki conta sua história no motociclismo em entrevista
Fonte: Moto.com.br

Vinícius Branca/Foto Arena/VIPCOMM

Vinícius Branca/Foto Arena/VIPCOMM

Moara Sacilotti é uma mulher que ama andar de moto. Embora seja piloto profissional, competindo em rallies pela Kawasaki, tem a mesma paixão pela pilotagem como no começo da carreira. Saiba mais sobre essa mulher piloto que é respeitada e admirada por todos que a conhecem.

Quando a moto entrou na sua vida? Quem foi responsável por isso?
Moara Sacilotti – Costumo dizer que eu nasci andando de moto. Meu pai, Gilberto, foi piloto de motocross; minha mãe, Regina, sempre andou de moto e adora nosso esporte. Eu e meu irmão, Ramon, crescemos nas pistas, acompanhando de perto as corridas do meu pai. E assim, aos 7 anos de idade ganhei minha primeira moto, uma PW 50 e logo de cara comecei a competir no motocross. O Ramon, que é mais novo, começou dois anos depois, quando tinha apenas 5 anos de idade.

Mas nunca ficamos apenas focados no motocross, também fazíamos passeios pelas serras do Mar e Mantiqueira. Isso despertou em mim o espírito desbravador sobre duas rodas, que anos depois me levou ao rally. Aos 10 anos de idade, fui pilotando minha Kawasaki KX 60 de São Francisco Xavier até Monte Verde. Uma aventura! (claro que meus pais estavam acompanhando na moto deles).

Como foi sua profissionalização como piloto?
A profissionalização veio em fases. Quando decidi correr o Rally dos Sertões, em 1998, não tinha condições de fazê-lo sem patrocínios. Foi difícil fazer com que as pessoas acreditassem que uma menina de 18 anos seria capaz de correr um Sertões. Mas então surgiu a Pirelli, que acreditou de verdade na minha capacidade (e ainda mantivemos a parceria pelos 10 anos seguintes) e então outras empresas resolveram me apoiar para aquele ano e não renovaram nos próximos.

Já em 2008 corri pela Yamaha e foi o início da fase realmente profissional. Desde 2012 corro pela Kawasaki, a qual sou imensamente grata e espero continuar representando pelo resto de minha carreira (ou minha vida, já que não é possível separar minha vida pessoal da esportiva). Veja, eu já tinha 20 anos de experiência quando passei a ser “piloto de fábrica”! Mas esses anos que estou com a Kawasaki tem sido os melhores da minha vida de piloto, sem dúvida.                     

Como concilia a vida pessoal com a profissional? Como sua família e marido lidam com a vida de piloto?
Como eu falei, não consigo separar minha vida pessoal da profissional. O motociclismo é uma paixão para minha família, e sei que se não fosse assim, eu dificilmente estaria no esporte ainda. Nós só falamos de moto. É raro termos outros assuntos! Meus pais adoram e dão todo o apoio que precisamos, minha mãe é nossa chefe de equipe e não perde uma etapa. Meu pai faz o possível para ir na maioria delas.

O Rodolfo, meu esposo, também anda de moto. Acho que ele foi levemente influenciado pela família, embora seja um esportista overall (já praticou inúmeras modalidades). Quando pode ele me acompanha nos rallies para fotografar e em 2016 competiu em duas etapas do Baja. Para completar, o Ramon encontrou uma mulher que também anda de moto e topa qualquer aventura, a Renata. Com todo esse apoio, fica mais fácil e até mais divertido conciliar as “Moaras” que existem na Moara!

Quais foram as dificuldades que enfrentou e que ainda enfrenta como piloto. Já enfrentou algum preconceito por ser mulher?
As dificuldades como piloto são as mesmas que qualquer homem enfrenta nos rallies. Longas distâncias, cansaço, poeira, terreno difícil, calor… mas sei que pelo fato de ser mulher, tudo isso se torna ainda mais difícil para mim, mais pesado, mais bruto. Rally é bruto.

Eu treino muito fisicamente para não sofrer e para ter o melhor desempenho possível nas competições. E acho que tenho o psicológico muito bom, até por ser ‘beeeeem’ experiente, e isso ajuda demais. Não vou contar meus segredos!

Como você avalia sua temporada 2016 e o que espera da que vai começar?
Minha temporada 2016 foi excelente. Fui vice campeã brasileira de Baja e Rally Crosscountry. E o Sertões foi incrível. Fiquei em 4º lugar entre os homens com mais de 45 anos (categoria Over 45) e em 16º na geral das motos. 16º foi demais, foi melhor do que o resultado da categoria. Dos 17 Sertões que corri esse foi o melhor de todos, sem dúvida. Foi difícil demais e eu só fui crescendo na prova. Queria que todos fossem assim!

Mas se tiver que tentar outras 17 vezes para sentir o que eu senti nesse Sertões, eu vou tentar de novo! Sou louca por esse rally, por pilotar sem saber o que tem na frente, rápido e desafiando a mim mesma.  Ah, em 2016 fui, como sempre, a única mulher a disputar os Brasileiros de Baja e Rally Crosscountry e mais uma vez a única mulher no Sertões entre as motos.

A temporada 2017 começa esse final de semana, no Rally de Barretos. Estou bastante animada para esta prova e para o campeonato todo. Será mais uma vez longo e desafiador, e a grande novidade é que o Baja Jalapão terá agora mil km! Gosto quando os rallies são mais longos e difíceis. Espero que a temporada seja toda assim e bem organizada. Farei o melhor que puder, como sempre, e espero subir ao topo do pódium o maior número de vezes possível!

Por que não temos mais mulheres piloto se destacando nas competições com motos?
Temos muitas mulheres competindo em enduros e fazendo trilhas apenas por lazer. No motocross também parece que tem um numero crescente delas. Isso é muito positivo porque acaba com a estigma de que motociclismo não é esporte para mulheres. O mercado está percebendo isso, várias marcas já tem linhas de equipamentos femininos etc. E temos um enduro somente para mulheres, que eu sou a única que nunca participa porque coincide com a abertura do Brasileiro de Rally.

Mas acho que ainda pode existir mais divulgação mídia não especializada  e muito mais incentivo, tanto por parte de possíveis patrocinadores (principalmente empresas que não são do nosso mundo offroad, mas aquelas que produzem produtos que todas as mulheres consomem) quanto por parte das instituições que regem nosso esporte.
Já o rally eu acho que é um caso a parte. É muito difícil e muito mais caro. Eu entendo porque eu não tenho concorrentes mulheres na minha modalidade.

Qualquer modalidade do motociclismo exige um investimento considerável para competir profissionalmente. Quais são as marcas que tem apoiam hoje?                     Patrocínio Kawasaki e apoios de Alpinestars, Bell, FAS Gráficos, Red Dragon, BRC Escapamentos. Ainda tenho disponibilidade para novos patrocinadores/apoiadores para a temporada 2017.

Se não fosse piloto de rally, o que gostaria de ser?
Bailarina… Sério! Não sei o que eu faria se não corresse rally.

Qual foi sua maior conquista na carreira? A prova mais importante?
Meu primeiro Rally dos Sertões. Porque foi uma superação muito grande. E também porque foi por causa dele que eu quis continuar no rally, não mais em outras modalidades, e assim muitas outras provas importantes e grandes conquistas vieram. Novas conquistas ainda estão por vir!

Moara, agradecemos muito pela sua atenção e desejamos uma ótima temporada! 

Por Marcelo de Barros
Fotos: Arquivo Pessoal e Divulgação


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